quarta-feira, 1 de abril de 2009

A Fuga


- baseado em fatos reais -


Pensando ser sua casa a gaiola
Ela pegou a estrada e partiu
Vivia cansada daquele ambiente tão familiar,
caloroso e compreensivo.
Queria explorar o inverso: o frio, o cruel, o inóspito.
Sabe-se lá como seria.
Para não mudar de idéia, tomou uma decisão
mais ciente: Não olhar para trás.

Seguiu, subiu, surgiu...
Frias espinhosas florestas urbanas.
Não via aonde ia.
Seguia...

Seres estranhos a rodeavam...
Cheiro de carne fresca,
de sonhos vivos,
de esperança intocada,
de fé sem barreiras.
Não roubaram nada dela.
Entrou sem remorso, achando, enfim,
o grande oposto.
Os seres iam crescendo, deformando, se apossando.
Ela aceitava.
Não lutava.

Até que, um dia, sentiu uma falta tremenda.
- Cadê? Cadê? Estava aqui nesse instante.
Perguntou por si mesma aos seres, ninguém vira...
ninguém sabia onde ela tinha ido.
Percebeu.
Enquanto cultivava tamanhos seres,
se esquecera, se abandonara, se perdera.
Aquela pecinha de essência não estava.
Não vivia, não sentia.

Tomou outra decisão:
- Isso aí não sou eu.
Foi em busca de si mesma.
Entre ferrugens, entre páginas amareladas.
Se encontrou em um amor impossível.
A peça era familiar, encaixante.
- Mas não é só isso. - afirmava.

Não podia depositar o resto de esperança naquele ser tão frágil.
Era preciso zelar.
Nesse tempo já havia saído da floresta urbana.
Olhava e passava ainda pelas ruínas de uma outra cidade.
Continuava a seguir.
Se fortalecia em cada esquina,
se reencontrara e, finalmente, se amava
com aquela intensidade sublimemente inexplicável.

A guerra, a missão: ela mesma.
Arrancou as ervas daninhas,
abriu caminho,
encontrara seus reais alicerces.
Mas não se fixava.
Seguia...

Um dia, passando despretensiosamente por uma rua, reconheceu.
Parecia até cilada, armadilha.
Desconfiada, ainda, continuou.
O cheiro da grama molhada, aquele cheiro, aquela paz...
Levou um susto.
O músculo oco a tanto adormecido voltara a bater.
Sentia em cada poro, em cada gesto...
Conhecia-se, enfim.

Olhou a casa, segurou a maçaneta:
havia deixado a porta aberta.



Ana Luiza Moura

2 comentários:

  1. E o publico vibra:

    Primeiramente pela atitude de criar o blog.

    Segundo pela forma e pela historia q esta grande heronia compartilha com os q aqui se permitem observar algo a mais.

    tomara q do outro lado da porta encontre a mesa posta...

    ResponderExcluir
  2. ás vezes enfrentamos todos os perigos,
    nos mahucamos, nos fazemos de fortes..
    e quando estamos frente à porta...
    ela está fechada...e a chave?
    perdeu-se pelo meio do caminho, junto ao tal músculo - por este estar oco, julgamos não precisar dele.Mas o músculo, mesmo cheio de vazio, pode sim, encher-se de vida novamente -

    [*]

    Ana Lu, que coisa mais linda! é mais que baseado em fatos reais: é a mais pura realidade. Palavras sempre bem-vindas e aconchegantes! Tuas palavras são como lenços...

    beises ;*

    ResponderExcluir