domingo, 7 de julho de 2013

Por seus netos

Quando era pequena, logo após de nos mudarmos do Rio de Janeiro para Fortaleza e irmos morar com minha vó Vilani, escrevi uma pequena redação contando sobre a minha família. Nesse pequeno texto dizia como era cada membro da nossa família que morava na casa da vó. Falei como era meu pai, minha mãe, minha irmã e ao falar sobre minha avó disse “minha vó é livre como um passarinho”. De toda a redação, a única parte que nos salta da memória é essa.

Minha avó era uma pessoa incrível. Tinha o coração do tamanho do oceano. Todos quem amava cabiam lá. Dizia que sempre estava bem e não guardava magoa de ninguém. Estava sempre disposta a ajudar com um conselho, um texto de lição de vida, um de seus crochês ou fazendo um quitute dos mais gostosos. Ensinava de maneira primorosa e sempre com muita atenção. Fazia suas orações e rezava o terço sempre antes de dormir, ‘para não enganar o santo’. Ao acordar, sentava-se na cadeira da mesa e de lá administrava toda a casa, quem saía, quem entrava, o que comia, o que assistia. Mesmo com a audição ruim, prestava atenção em tudo e sempre dizia que a única coisa que não se podia tomar de nós era o conhecimento. Por isso, estava sempre estudando, fazendo seus simulados, aqueles mesmos que via no jornal. Seu último interesse foi que queria aprender inglês e estava guardando os fascículos que vinham todo domingo no jornal. Da televisão, assistia aos programas de culinária, de música e as novelas, até que ficaram muito malvadas e não quis mais assistir. Nunca perdia uma chance de passear. Ia ao cinema e teatro, até para simplesmente dormir a sessão inteira. Ao passear pela cidade, contava quem morou em tal rua, quem nasceu em tal rua, que passou quatro anos numa casa sem água encanada e como a cidade tinha crescido. Que ela não sabia mais andar pela cidade. Muitas vezes, ouvíamos as belas melodias que saiam de seus treinos ao piano e cantorias. Gostava de poesia e tinha anotado em seu caderno todas as músicas que mais gostava, assim como suas contas do mês para pagar e receber. Gostava de receber visitas e fazer um café. Guardava tudo e tinha uma memória impecável. No seu guarda-roupa, cabia muitas histórias, pertences e milhares de livrinhos de orações. Também uma parte de achados e perdidos. Minha avó era única e ao mesmo tempo estava em todos os lugares, desde a França até o seu quarto. E sua maior satisfação era ser capaz de cuidar da gente.

Foi com minha avó que aprendi a acreditar na escolha da vida. Do perdão ser maior que o erro. Da gentileza superar todas as armadilhas do cotidiano. Da paz ser maior que qualquer briga. Da persistência ser a melhor escolha antes do arrependimento. Não acredito muito na previsão de vida, mas aquela redação feita há muitos anos nos trouxe apenas uma certeza no dia de hoje. Que agora, sim, minha avó é livre como um passarinho.

Um beijo, vó. E boa noite.


Por sua neta Ana Luiza Menezes Moura

sábado, 1 de junho de 2013

do que cabe.














o mundo tende a me diminuir.
mas, eu... não caibo em mim.





Ana Luiza Moura

sexta-feira, 26 de abril de 2013

pequeno e singelo lembrete

Cansei de ver a vida das outras pessoas.
É sempre tanto mais.
Preciso mais da minha que é.
Do que só ficar nos ais.

Bobo, bobinho...

sexta-feira, 1 de março de 2013

Da própria criticidade

Sou definitivamente a crítica mais assídua de meu próprio resturante. Cada prato servido  é minuciosamente examinado na degustação e triplamente elevado ao quadrado na execução. E possivelmente, sou a mesma que diz: foda-se.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

a la Lalá

Lalá é uma excelente companheira de escrituras. Claro que precisa ser conquistada antes com o seu mais novo DVD escolhido na mão. DVD que daqui a dois dias ficará com a capa a la Lalá. E eu que sempre procurei alguém para sentar e escrever junto sem ficar preocupada com o alredor nem percebi que ela já estava aqui, a sua maneira.

Aprendi um pouco mais nesse convívio. Aprendi que ela preza a compainha apesar de viver com suas próprias regras no seu mundo.

E era exatamente isso que eu precisava tornar real: construir um convívio no meio da multidão da praça de alimentação do shopping, com uma compainha a altura que me tirasse do imediato. Vontade de tomar sorvete.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Da própria tentativa de escrever

... - pensou na primeira palavra que vinha naquele momento, o mais importante, talvez.

... - pensou outra vez e nada se materializava na sua frente como normalmente acontecia. Sabia que sentia, mas não sabia ao certo o quê. Sabia que era bom, mas não sabia ao certo como. Era simples e completo.




Sem mais delongas, cansou de procurar classificar e se deixou levar.



Ana Luiza Moura

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Das promessas de ano novo

A sensação era esta: daquelas de abertura de porta da felicidade. O frio na barriga. Gelada da cabeça aos pés. Dormente na testa, os olhos ansiosamente pesados. Já tinha tudo combinado, horas antes do ano. Agora, só faltava seguir, atravessar e checar se tudo ocorreria como o previsto. Até que pensou: como se dá para viver o nunca vivido?