sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Da bagunça interior


Tal qual as etapas de uma decolagem de um foguete, me preparo para olhar aqui dentro. Tal qual a arrumação para receber uma visita é o que acontece quando penso. Tal qual preparativos de viagem, checo a lista de palavras que levo comigo. Refinamento, check. Sentido, check. Essência, check. Se um me falta, já desisto. Por isso, não gosto de pensar sobre. Gosto de ser pega de surpresa e me encontrar num estado de bagunça. De não fazer sentido, com qualquer essência e um certo antirrefinamento. A vontade dessa bagunça é presente e por incrível que pareça é nela que me encontro mais plena, mais presente, mais viva, mais eu. É nela que me volto e com clareza percebo cada pedaço secreto. É ela que tem o mais cremoso e delicioso gosto de chocolate. É ela que me preenche. Como se eu fosse composta por mil e uma possibilidades e não me limitasse a sim/não a isto/aquilo. Sou um possível monstro de isto-aquilo-seilá-e-... Talvez essa bagunça seja o porto mais seguro. E é nela, por ela e com ela que consigo absorver qualquer tipo, gosto, tato, jeito. Ela é a minha introdução.


Ana Luiza Moura

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Places

É só nessas horas, com tudo pronto. E o cansaço aflora.

Um pequeno grupo de colegas se encontrava no térreo do prédio. Meninos e meninas. Cada um no seu lugar. Sentados em algumas cadeiras; outros em pé. Cada um no seu devido lugar. Conversavam sobre "talvez, quem sabe" "ouviu?" e entre tantos outros comentários. Na frente, uma das meninas roubava a atenção, mostrando todos os seus dotes artísticos, a la stand-up commedy. Atrás das cadeiras, outra menina escutava assim como todos os outros colegas com seus olhos vivos e ávidos. Sentada no colo de um dos rapazes, outra, talvez, a de olhar mais sereno, quem sabe. Cada um no seu suposto lugar. Na surdina, porém, podia-se ouvir o cochicho, o murmúrio entre cada ínfima parte de cada ser. Transformando-se a que fazia o show queria na verdade ser chama e tomar o lugar daquela que sentava no colo do rapaz. Queria parar de charmar a atenção e realizar o que desejava. Talvez até descansar. A do fundo ansiava exasperadamente ganhar alguma chance para poder fazer o seu show e deixar sua marca no sorriso. Se tornar visível aos olhos do mundo. No entanto, talvez, a do colo estivesse usufruindo do seu mais recôndito desejo de ser invejada e honrosamente amada.
E continuavam todos lá. Nos seus servidos lugares.


Ana Luiza Moura