terça-feira, 16 de novembro de 2010

Tráfego


Ela estava no canteiro que dividia as duas faixas opostas - duas divididas em quatro - de uma grande avenida. O tráfego era intenso, veloz e irrefreável. Ela permanecia ali, olhando o outro lado da rua.
Olhava fixamente, sem ombros baixos, para manter a vista focada (ou relaxada). E ela via.
O tráfego com seus veículos vermelhos multifacetados fluía numa velocidade maior do que seus movimentos. Não havia sinal, semáforo que pudesse para toda a eloquência das buzinas e dos pneus-cantando. Não havia faixa de pedestres e muito menos uma alma caridosa que pudesse frear e lhe dar passagem.
Quando ela via, cada qual já havia atravessado, já estava no tráfego. Cada molécula sua se misturava ao tráfego externo, o que fazia com que, por dentro, ela se mexesse toda. E embora ela continuasse a olhar, ela permanecia numa velocidade quase imperceptível a olho nu de tão lenta.
Ansiava atravessar ou chegar do outro lado? O medo de não ser atingida a dominava:

- Atravessar e não morrer pelo caminho.



Ana Luiza Moura